quinta-feira, 22 de março de 2012

Exercício

Posto que o amor é fruto, e não semente,
resta colhê-lo.
Alcança com a mão a fruta fálica,
toma-a entre os dedos tão de leve
que a faça vibrar, já sazonada
pelo calor que emanarás.
A penugem do pêssego (inventemos)
deve cair sobre os teus lábios e a boca
de avidez serena,
até que o fruto, feito pássaro,
tombe trespassado de chumbo.
Posto que o amor é amor,
cumpre sugar a flor, o pólen, o sal,
a cor da fruta vulvar disseminada,
seminada.
A linguagem do amor é infecunda
como um poema,
apenas lança o seu destino, tece
o fio bem finito do orgasmo:
órgão, asma.
Posto que o amor é tudo e nada
tese e síntese
linguagem que falo,
resta aviá-lo: imagem/fruto/falinguagem.


(Poema de Nei Leandro de Castro in Zona Erógena, tela de Swan Song)

Um comentário:

O Andarilho das Palavras disse...

Prezada Sandra,
Cheguei a sua pessoa através de seu belíssimo blog que revela o universo lírico de seu esposo Nei. Antes de mais nada, acho justo que me apresente. Chamo-me Peterson Martins Alves Araújo, defendi há alguns meses uma Tese em Literatura Comparada na UFRN. Na mesma, apresento uma nova estética (o hiper-regional) surgida a partir da obra "Grande sertão: veredas" de Guimarães Rosa, em que, percebo uma forte presença na obra de vários escritores contemporâneos, dentre eles, Nei Leandro de Castro.
Embora não tivesse conseguido entrar em contato anteriormente, apresentei uma comunicação no GELNE (Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste) em que faço uma análise sobre a presença dessa estética na obra "As Pelejas de Ojuara". O título da comunicação foi este: "Como nasce um romance da peste na peleja hiper-regional". Assim, se não fosse muito impertinente, gostaria de saber se seria possível que me informasse o e-mail de Nei ou se poderia fazer as perguntas de algumas dúvidas que pairam sobre pontos da análise que fiz.
Atenciosamente,
Peterson (e-mail: peterson.martins@gmail.com)